Antes
de tudo, devemos perguntar o que são substâncias psicoativas? As pessoas
geralmente pensam logo nas drogas ilícitas e se esquecem que essas substâncias
fazem parte de nosso cotidiano e a maioria delas é aceita pela sociedade como
alimentos, bebidas e fármacos de ampla utilização no dia-a-dia. O homem utiliza
essas substâncias desde a pré-história e não apenas para fins ritualísticos,
porque realmente grande parte dos psicoativos eram também usados na cura de enfermidades
e na alimentação.
No
nosso continente, as populações nativas há milhares de anos usam determinadas
plantas em suas festividades religiosas e também no tratamento de doenças, como
é o caso da folha de coca tão utilizada na região andina e que foi
posteriormente assimilada pelos europeus. Hoje quando um turista vai para
lugares de grande altitude, como por exemplo, a cidade de Cuzco, é comum que
lhe ofereçam chá de folha de coca logo que chegue ao hotel. O chá serve para
impedir que o indivíduo sofra do mal da altitude, que pode se manifestar de
diversas formas, entre elas: dores de cabeça, cansaço, náuseas e falta de ar.
No entanto, a mesma folha de coca hoje é utilizada para criar algumas drogas
ilícitas que causam dependência em quem as consome e o tráfico das mesmas gera
grandes riquezas para poucos e muita violência na sociedade.
Sabemos
que em diferentes momentos da história houve a perseguição ao uso de alguns
psicoativos, como é o caso da mirra e da folha de coca, porém foi só a partir
do século XX que essa proibição do uso de determinadas substâncias psicoativas
foi institucionalizada. Primeiro foi o caso do álcool, com a Lei Seca nos EUA
em 1920, depois a guerra contra a maconha, a cocaína entre outras. Hoje o
álcool é consumido livremente, com exceção dos países islâmicos, e embora já
tenha sido usado como remédio, hoje pode ser considerado um gerador de grande
violência. A maconha também já foi usada como remédio e hoje é proibida em
muitos países. Pouco a pouco esse paradigma está mudando e há países que já
legalizaram seu uso, porque a manutenção da coerção contra esse consumo apenas
agrava a situação.
O
vício existe na sociedade contemporânea e não é só em relação ao uso de
psicoativos ilícitos. Prova disso, é que o Rivotril, conhecido ansiolítico, é o
segundo remédio mais vendido no Brasil e seu uso abusivo também pode ser fatal.
Vinho,
cerveja, chá e até mesmo a famosa junção de dois excitantes, a coca de nosso
continente e a cola da África, que gerou um dos refrigerantes mais consumidos
no mundo, são psicoativos, porém lícitos. Todos provocam o vício e se alguns
têm seus benefícios curativos, no caso dos refrigerantes, sabemos que o seu
consumo leva a morte milhares de pessoas anualmente.
É
importante entender então, que as substâncias psicoativas são consumidas pelo
homem cotidianamente há milhares de anos e se hoje convivemos com o uso abusivo
de algumas e com a violência e mortalidade que isso gera, está na hora de
repensar velhos paradigmas em relação às drogas lícitas e ilícitas, pois todas
têm seu lado positivo e negativo. Cabe elucidar a sociedade a respeito desses
prós e contras para que boas escolhas possam ser feitas e os danos causados por
algumas dessas drogas possam de alguma forma ser minimizados. As campanhas contra
o uso do tabaco com fotografias de pessoas definhando em camas de hospitais não
são agradáveis de ver, mas certamente auxiliam na conscientização dos prejuízos
do tabagismo. A mesma coisa em relação à junção do consumo de álcool e direção
e suas conseqüências. Todos os psicoativos possuem efeitos ambíguos, o uso
terapêutico pode ser de grande eficácia, mas o uso desinformado também pode
causar grandes danos à saúde e à sociedade como um todo. A legalização e a conscientização
sobre o uso de tais substâncias representam um passo para a melhoria de vida na
nossa sociedade.